sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Intolerância Religiosa I

Olá, Pessoal, tudo bem?
Desculpem-me a ausência durante estes meses, mas, aqui vai mais uma postagem para comentários. Desculpem o "tamanho", mas, não teve jeito...teve que ser assim, sem cortes ou resumos. Um forte abraço e um excelente 2010.

Ontem, 21 de janeiro (quinta-feira), foi o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. Pouca coisa foi veiculada na mídia nacional, que, se encontra “ocupada” em mostrar os horrores dos desastres do recente terremoto no Haiti e as enchentes em São Paulo (talvez estes fatos acrescentam mais pontos na audiência).
Aqui na Bahia, especificamente num programa de rádio, ouvi uma frase muito interessante e que me levou a refletir bastante. O Médium José Medrado, tecendo comentários a respeito do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, parafraseou (acho que) um desabafo atribuído à filha da Sacerdotisa Mãe Gilda de Ogum do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum – que desencarnou (infarte fulminante) em decorrência de agressões efetuadas por adeptos de uma determinada Igreja Evangélica ao seu Templo, como também à veiculação, na capa do jornal desta mesma Igreja, de sua foto estampada na capa, com a seguinte expressão: “Macumbeiros e charlatões lesam bolso e vida de clientes”, de forma a denegrir sua imagem.
A frase atribuída a sua filha foi a seguinte: “Eu não quero tolerância, quero respeito
Frase simples, mas, carrega uma pesada carga de verdade em relação ao termo “tolerância religiosa”, como que a palavra tolerância desse a conotação de “ter que aturar”, demonstrando que a tolerância é uma obrigação imposta por Lei e não uma forma natural e espontânea de aceitação dos contrários.
Esta frase atribuída à filha da Sacerdotiza Gilda de Ogum, cujo nome é Jaciara Ribeiro – atual Sacerdotisa do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum – traduz de forma bem clara o que os adeptos de algumas religiões querem: RESPEITO PELA SUA PRÁTICA RELIGIOSA.
Quando vemos que é necessária uma Lei para alertar e punir a prática da Intolerância Religiosa, comprovamos o quanto ainda não entendemos a Doutrina de Jesus, base das religiões cristãs, que se encontra contida nos evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João, sem falar nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas).
A Lei 11.635 sancionada pelo Presidente da República em 27 de dezembro de 2007, criando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, é um atestado da natural intolerância e preconceito social no que toca às diferenças.
As corruptelas nascidas das dissidências de religiões que apresentavam, aparentemente, a doutrina Cristã (que se encontra nos Evangelhos) como “pano de fundo” e que se intitulam cristãs, esqueceram das “palavras” de Jesus, citadas pelos seus apóstolos....
Mateus 05 – As Bem Aventuranças
23- Se, pois, ao trazeres ao altar a sua oferta,
ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24- Deixa perante o altar a tua oferta,
vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e então, voltando, faze a tua oferta.
25- Entra em acordo sem demora com o seu adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão.
26- Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.

Nesta passagem vemos que Jesus não condenou a forma exterior de adoração à Divindade, mas, o conteúdo do “coração” daquele que sacrificava ao seu Deus; e demonstra, com isto, que o sacrifício mais válido para Deus é a pureza e leveza do “coração” ou da consciência tranquila. Jesus, aqui, respeita a forma de adoração, mas, ressalta a pureza do espírito como a forma que mais agrada a Divindade.

Marcos 09:
Jesus ensina a tolerância e caridade.
38- Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que expulsa os espíritos em teu nome, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.
39- Mas Jesus respondeu: Não lho proibais;
porque ninguém há que faça milagre em meu nome e logo a seguir passa a falar mal de mim.
40- Pois quem não é contra nós, é por nós.
41- Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão

Vemos, nesta passagem, os próprios discípulos de Jesus requerendo seu aval contra uma pessoa que “trabalhava” curando e "expulsando" espíritos, pois, o mesmo não fazia parte do “grupo”. Jesus, de imediato, repreende João dizendo para que não proíba o homem de fazer a sua parte em favor do próximo.
Podemos ver, nesta passagem, que a intolerância e a prática de exclusão de pessoas que não fazem parte do grupo já ocorria, porém foi contrariada por Jesus, dentro de seu próprio grupo. Porque, após mais de dois mil anos de Cristianismo, vamos contra os ensinamentos de Jesus, excluindo, condenando e agredindo as pessoas que apresentam formas distintas de adoração à Divindade? Será que só Jesus salva? E será que salva mesmo? De que e de quem?
E antes de Jesus, a humanidade ficou sem salvação? E nas civilizações em que o cristianismo não adentrou, a humanidade destas civilizações estão perdidas?
Pessoal, devemos atentar para os evangelhos, pois, se somos cristãos, somos evangélicos, haja vista que a Doutrina de Jesus se encontra “dentro” dos Evangelhos e Jesus não se personalizou como a “pessoa”, matéria episódica e social, ou seja, Ele não se descreveu como sendo Jesus de Nazaré, filho de José, o carpinteiro e de Maria; Ele simplesmente disse.....
.....Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; e ninguém vai ao Pai senão por mim.
Em outras palavras, ninguém cresce, ou vai ao encontro de Deus sem, sincera e honestamente, viver buscando a verdade e, consequentemente, praticando a lei maior de Amor e Caridade.
Mas.... “quem há de”, neste plano, conhecer a verdade e se arvorar defensor da mesma, maltratando aqueles que buscam agradar a Deus de acordo as suas práticas, mesmo que diferentes das nossas?
“Quem há de” ser o representante legal de Deus aqui na Terra, para determinar qual a maneira mais correta de praticar a Lei de Amor e Caridade?
...para nossa reflexão.


Em tempo.
Nossas homenagens, mesmo sem a ter conhecido, a Mãe Gilda de Ogum, que, conforme relatos de pessoas que a conheceram, professou sua religião com muito amor e dedicação, sempre se esforçando para que todos que adentrassem o Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum conhecessem a verdade libertadora da prática do bem
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