Antes de começarmos a conversar sobre a fenomenologia espiritual, vamos ousar colocar algumas interrogações a respeito do que chamamos de Deus.
Acostumamos a falar Dele com tanta intimidade, que O colocamos em nosso cotidiano... é um tal de “Se Deus quiser”, “graças a Deus, “Deus quis assim” etc..., mas, em nenhum momento pensamos Nele como a “Inteligência Suprema” e desconhecemos suas Leis. Nunca raciocinamos ao lidar com as concepções arcaicas e multimilenares de uma “Coisa” que, “achamos” reger as nossas vidas, ordenar as coisas, governando o universo. Criamos auxiliares para Deus, que governam planetas, paises, etc, mas, ainda, nunca raciocinamos sobre as “coisas”. Penso, em verdade, que temos medo de raciocinar, de inquirir sobre essas “coisas” que nos ensinaram, que nos meteram “goela abaixo”, pensando no castigo em desafiar os “mistérios”.
Vemos pessoas dotadas de inteligência acima da média, repetindo jargões, perpetuando conceitos e temendo quebrar paradigmas que já não mais se coadunam com nosso tempo, mas, como sempre, nunca paramos para pensar na “Causa primária de todas as coisas”; isto tudo só colabora para o abandono, a apostasia das religiões, vivendo num mundo de fantasias, tentando agradar a Deus de todas as formas, inclusive com um “trocadinho”; É verdade.........
Vejamos...
Desde o inicio de nossa civilização, nos relacionamos com o invisível; mesmo em nossa infância intelectual, em nossa “fase do concreto”, fase em que, devido a nossa apoucada inteligência, não podíamos formar sistemas baseados na idéia do Espírito, tão refinada e abstrata. Assim, a nossa crença, de homem primitivo, só poderia ser fundamentada na experiência objetiva do fato: o relacionamento com seres, que hoje chamamos de espíritos.
Como ainda não entendíamos a natureza e suas leis, achávamos que tudo era “um deus”, mas, com o caminhar da evolução, vimos as idéias, ou concepções que tínhamos de um Deus se afastarem do primitivismo, mas, sempre, possuíam a tonalidade inerente ao nosso estágio intelectual.
Estas idéias, ou concepções, vão se refinando e, se afirmando como necessidade básica do homem em procurar, para si, uma explicação para o Universo. Assim, pode-se dizer que o Deus que nós adoramos é fruto de nossas concepções, é um espelho das nossas necessidades e tendências. Assim, vemos, desde uma idéia acanhada – porém proporcional ao estágio intelectual – de um Deus do Trovão, das Águas, dos Exércitos, dos Céus, até a mais refinada Concepção Existencial de Deus – que é consequência de todo um processo – um esforço intelectual de varias correntes cognitivas, passando pelas religiões primitivas fundamentadas no animismo, atravessando a fase antropomórfica, absorvendo idéias panteístas e incorporando noções científicas.
Mesmo assim, é certo que, a distância entre Deus e o homem, que se expressa pela dificuldade de entendimento, é incomensurável. Paradoxalmente, esta distância também é pequena, pois, “...vocês são deuses”, Ele se encontra “dentro” de nós e se faz representar através das leis naturais, sejam físicas, biológicas ou morais; ressaltando-se que esta representação não significa ausência diretora, mas um atestado de igualdade.
Um dia, quando conhecermos, conscientemente, estas leis que regem todo o Universo, os mistérios deixem de existir.
Para finalizar, deixo a frase final que Voltaire colocou na boca de “Cândido, o Otimista”, expressando que “gastamos” muito tempo e energias mentais tentando descrever Deus, enquanto poderíamos ocupar, de forma mais eficaz, nossas mentes, tentando compreender a nós mesmos e nossas loucuras, portanto, gente.....
.....“é preciso cultivar nosso jardim”