sábado, 20 de novembro de 2010

O escândalo é necessário ll – Consequências e homenagem

Olá, gente. Dando seguimento à postagem anterior..... a coisa se firmou e...foi adiante. No dia 16 de novembro de 1908, na casa de Zélio Fernandino de Moraes, deu-se o início de um novo movimento religioso, que, agregava trabalhadores espirituais de todas as matizes, haja vista não serem aceitos nas casas espíritas da época. A esta nova religião, o “Caboclo das Sete Encruzilhadas” denominou de “UMBANDA”, agregando, em seu corpo doutrinário, princípios do africanismo, do catolicismo e do Espiritismo; "ajuntando" trabalhadores espirituais que já militavam na seara da caridade, tais como “pretos velhos”, índios, ciganos, religiosos, falangeiros, caboclos, etc.. Formada pela representação do povo que constituiu a nação brasileira – índios, africanos e europeus - com uma linguagem simples, atendendo à característica intelectuais da maioria da população, falava aos corações necessitados.

Com uma roupagem desprovida dos apetrechos e apanágios característicos de otras religiões, abolindo os rituais de matança de animais e a cobrança de “consultas”, Zélio Fernandino de Moraes, iniciou a abertura de várias “Tendas” em Niterói, treinando líderes e expandindo, o novo Movimento Religioso, para outros Estados. A “Umbanda” - Umbanda, mesmo - se encontra representada simbolicamente, sem excluir os outros trabalhadores espirituais, numa “trindade”, a saber:

- “Crianças” – Alegria e inocência

- “Caboclos” – simplicidade e força

- “Pretos velhos” – sabedoria e humildade

Esta “trindade” simbólica, representa, também, as fases da vida do ser humano, quando encarnado.

Quando digo: “Umbanda, mesmo”, me refiro à “verdadeira Umbanda" (podemos até fazer uma comparação da redundância "espírita Kardecsta"), pois, com o passar do tempo, algumas pessoas imiscuíram práticas alheias e alienígenas ao movimento, fundando casas para a “$olução de problema$ exi$tenciai$", utilizando espíritos, que, sem compromisso com a “causa” umbandista, vendiam (vendem) seus "serviços" e, assim, deturparam a verdadeira essência desta religião, que, podemos dizer, muito embora oriunda da evolução e adequação de vários segmentos religiosos de outras nações, “NASCEU” AQUI NO BRASIL, pela necessidade. Se refletirmos mais detidamente, podemos até fazer uma comparação (êta....., isto vai feder, mas, vou arriscar):

Codificador - Iniciador Espiritismo: Kardec (Denizar Hippolyte Léon Rivail – nome e sobrenome nesta ordem, conforme o espírita e pesquisador Carlos Bernardo Loureiro.

Iniciador da Umbanda: Zélio Fernandino de Moraes

Espírito responsável pela iniciação do Movimento:

Espiritismo: Espírito de Verdade

Umbanda: Caboclo das Sete Encruzilhadas

Seja lá como for, não sendo umbandista, tenho que me ater apenas nesta superficialidade e, quem quiser se aprofundar.....pesquise.

Quero, neste momento, declarar que sou espírita – e, prá ser redundante, como costuma-se dizer por aí, sou Espírita Kardecista (rsrsrs) – militante, porém, não posso deixar de reconhecer, respeitar (obrigação dtodos nós) e, aqui, prestar minha homenagem à UMBANDA, a Zélio Fernandino de Moraes, ao Caboclo das Sete Encruzilhadas e a todos os trabalhadores (encarnados e desencarnados representantes de todas as linhas) na seara da umbanda, pelos seus 102 anos de existência.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O escândalo é necessário l - O início

Alguém disse há muito tempo atrás: “O escândalo é necessário....”.
Verdade, verdadeira, pois, é necessário que ocorram escândalos para a evolução das idéias, para surgimento de novos paradigmas, pois se assim não for “tudo continua como dantes no quartel de Abrantes”.
A história é repleta de exemplos de personagens que “se arriscaram” em provocar escândalos e, como consequência, provocaram mudanças, muitas vezes necessárias para a quebra de preconceitos.

Isto....este é o ponto...”p r e c o n c e i t o”.

O preconceito fica enraizado em nossa personalidade e se estende por todos os setores da sociedade, inclusive nas religiões.
Religiões cristalizadas em paradigmas envelhecidos e anacrônicos, pois, foram criados em épocas remotas e não se coadunam com o nível de desenvolvimento da sociedade moderna.

O caráter progressista do Espiritismo fica consubstanciado em “A Gênese”, quando Kardec, no item 55, diz:
“Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação.......
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação.......... o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

Isto foi esquecido por alguns líderes espíritas de outrora, que, devido ao preconceito e à coloração erudita do início do “Movimento Espírita Brasileiro”, não aceitou a “prata da casa” como força de trabalho.
Obs.: É importante esclarecer que “movimento espírita” é diferente de “Doutrina Espírita”.
Pois é...digo “prata da casa” em relação aos espíritos, que "viveram" no Brasil, que “aprenderam a viver”, sofrendo os aguilhões da humilhação dos pelourinho, dos trabalhos forçados, das perseguições, enfim de todo um conjunto de preconceitos próprios daquela época. Mais claramente, me refiro aos escravos e índios que viveram no Brasil colônia.

O negro e o índio, com suas culturas, suas medicinas e suas religiões de metafísica e linguagem simples e simbólica, se relacionavam claramente com os “espíritos”; e estes se imiscuíam nas atividades cotidianas do grupo.

Estes espíritos, entusiasmados com a possibilidade de prestar serviços de esclarecimentos e de ajuda nas casas espíritas do início do século 20, não foram aceitos nas reuniões mediúnicas espíritas e, devido à linguagem arrastada, manipulação de energias dos elementos materiais, eram rotulados de “espíritos atrasados” pelos dirigentes daquela época, que, só aceitavam “espíritos evoluídos” de ex-padres, ex-freiras, ex-isto e ex-aquilo, principalmente quando suas encarnações anteriores foram na Europa (no popular: “espíritos gringos” - é de fazer rir, mesmo), ou seja, espíritos que nunca foram espíritas, quando encarnados e que se encontravam na mesma posição perante a compreensão da mensagem cristã universal - "CARIDADE".

Até que, em 15 de novembro de 1908, numa “seção mediúnica” para tratamento de um certo jovem, de nome Zélio Fernandino de Moraes, um espírito, caracterizado como “preto velho”, se manifestou e perguntou aos dirigentes da reunião porque não era permitido se manifestarem, na reunião, espíritos de índios e escravos e porque eles eram considerados atrasados?

Ocorreu o seguinte diálogo:
- Dirigente pergunta:
“Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos, que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?”
- Espírito responde:
Se julgam atrasados os espíritos de pretos e de índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados.”
- Dirigente pergunta, com ironia:
“Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?”
- Espírito responde:
Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei”

Para não ficar muito extenso (rsrsrsrs, pois já está), postarei o resultado da trilogia “escândalo” na próxima postagem.

Pobreza Moral.

A nossa maior pobreza não é a “pobreza econômica” e, sim, a “pobreza moral”.
Apesar de todas aquisições intelectuais, nas ciências, nas artes, etc.., nossas aquisições morais, em que pese termos à disposição, há muito tempo, paradigmas propostos, tais como os cristãos, ainda são apoucadas, se comparadas com aquelas.
Em plena era cibernética, onde vemos o adiantado desenvolvimento das variadas faces da ciência, tais como telecomunicações, medicina, engenharia, etc... ainda persistem, em nossa sociedade, práticas e comportamentos pouco dignos, controversos e antagônicos ao modelo moral proposto para nossa civilização; sendo necessário a criação de leis para regular as relações sociasi e defender direitos naturais.
O uso de “máscaras sociais” é a confissão íntima da nossa personalidade, ou seja, quando usamos as nossas várias “máscaras” para permearmos a sociedade, confessamos para nós mesmos que, nossa personalidade ainda está aquém daquela que nos foi colocada como modelo. Confessamos para nós mesmos que não somos o que gostaríamos de ser, ou, pelo menos, não conseguimos ser o que nos foi ensinado, desta forma, “fabricamos”, aparências circunstanciais, efêmeras e transitórias, de comportamentos aceitos na vida social.
Nossos comportamentos, em verdade, ainda são marcados, de forma indelével, pelo egoísmo, muito embora, às vezes, não o notamos em nossa conduta social, por estarmos totalmente integrados – inconscientemente – em nosso próprio arquétipo evolutivo.

Mas, “Tudo está certo” e, conforme a Lei de Thelema: “Fazes o que tu queres, pois, é tudo da Lei.

Estranhamos, quando comparamos esta colocação com nossas atitudes perante o próximo, mas, nos utilizando das palavras de “Caboclo Mirim”, por Benfamim Figueiredo, “O homem....ainda não percebeu que todos os seus erros estão inteiramente certos, pelo próprio desacerto com que se conduz”, tudo está certo.
É uma questão de “causa e efeito” e nós..., entendendo esta Lei Suprema, por que ainda insistimos em tais comportamentos???

É a nossa natureza expressa na fábula do “escorpião e a tartaruga”

sábado, 6 de novembro de 2010

Olá, pessoal.
Pesquisando na rede encontrei um texto simplório, mas, apresenta uma expressão próxima à compreensão da Lei de Causa e Efeito.
Críticas....mandem ver.



SE SOUBESSE QUE MORRERIA AMANHÃ

Primeiramente, poderia ficar revoltado, angustiado, melancólico, a depender do meu estado de espírito e, sendo assim, com certeza, ficaria melancólico.
Mas, não ficaria prostrado aguardando o momento, não...., de maneira nenhuma; procuraria, sim, as pessoas que amo, que, nos momentos mais difíceis de minha vida deram-me aquela mãozinha de maneira desinteressada, sim, com certeza, foram estas pessoas que, apesar das minhas agonias e incertezas, me ajudaram de maneiras diversas. Estas são, verdadeiramente, os meus “anjos de guarda”.
Procuraria estas pessoas, olharia bem no fundo de suas almas e lhes diria: “sou-lhes eternamente grato por vocês amaciarem os meus caminhos, se eu morresse amanhã, tenham certeza que no meu encontro com Aquele, não rogaria por vocês, mas, pediria para acompanhar vocês para que eu pudesse aprender a viver compreendendo as pessoas que cruzam o meu caminho.”

Procuraria, também (porque não?), as pessoas que, com interesse, colocaram pedras em meu caminho, e me dificultaram a Viagem e, olhando bem no fundo de suas almas, lhes diria: “...me perdoem por não poder ser da maneira que vocês queriam que eu fosse, me perdoem por não conseguir ser amado por vocês e tenham certeza que quando estiver com Aquele, não só rogarei por vocês, mas, por nós.

Passado estes momentos de melancolia, olharia para trás do tempo e vasculharia minha memória recordando os momentos mais simples e felizes de minha vida: a espera pelo presente de natal, o friozinho na barriga provocado pela aproximação da primeira namoradinha, a satisfação do primeiro dia de aula ao encontrar os colegas e, assim, resgataria esta vibração e a transformava em sorriso. Agora estaria pronto para sair e me despedir da "vida".
Inicialmente, convidaria a pessoa com a qual, durante esta Viagem, não consegui me reconciliar, porque não? Sim, é uma tentativa e é válida.

Daria uma oportunidade para que, num tempo relativamente pequeno, porém importante, pudesse haver um princípio de compreensão. Ela é-me muito íntima, convivemos há muito tempo, no entanto nunca conseguimos viver pacificamente.

Na Viagem anterior vivíamos plenamente, satisfazendo os nossos desejos, anseios e inclinações, conseqüentemente provocamos inúmeros problemas a outrem, porém, firmamos um acordo: planejando esta nova Viagem, prometemo-nos não ser mais prepotentes, intolerantes e que aceitaríamos as pessoas do jeito que elas são, da mesma forma que combinamos reestruturar algumas estradas que, no passado, nos fatigamos em colocar pedras.

Bem, começaria o dia, dando maior atenção a ela, ouvindo-a, pois durante esta Viagem, as preocupações e as seduções do “ter” me fecharam os ouvidos para sua voz.
Sairia de casa e iria admirar o sol nascer numa praia onde estaria a sós com esta pessoa, que é muito importante para minha existência. Num diálogo mudo olharíamos o horizonte e acompanharíamos o movimento lento do astro rei que, ao levantar-se, provocava uma leve brisa fria e monótona; tentaríamos não deixar o passado vir à tona, pelo menos neste momento; conservaríamos a emoção deste espetáculo e compararíamos com o momento do nosso acordo para a Viagem.

Então, tomando fôlego, diria a ela:
Tentei, durante esta Viagem, conforme combinamos, não ser com você era. Algumas vezes, com muito sacrifício obtive sucesso, outras vezes não consegui, mas na maioria das vezes ocorria um misto entre o que era e o que deveria ser. Por sermos muito íntimos, as pessoas viam você em mim, talvez devido ao passado ser muito presente e, desta maneira, enxergavam mais você do que a mim, resultado: agiam de forma a se vingar de você, desprezando-o em mim, atacando-o em mim. Sofri, pois sua presença era muito forte, nem mesmo eu conseguia me esquivar de você. Passei, nesta Viagem, pelos mesmos tipos de estradas que construímos no passado, fazendo com que algumas pessoas transitassem por elas e, hoje, transitando por estes caminhos, sei o quanto foi árduo para aquelas pessoas. Algumas delas compreenderam-nos e me ajudaram a percorre-los, outras, não....., pois, revoltando-se, atiraram pedras nestes caminhos.
Diria, ainda:
Foi muito difícil passar por tudo sem ter a compreensão do passado, revoltei-me e, nesta revolta, condenando e, às vezes, perseguindo aqueles que colocavam as pedras no meu caminho, “meti os pés pelas mãos”; mas, com isto, só estava criando uma medida, como armadilha do presente para o passado. Com este juízo que criei – do certo e do errado, do justo e do injusto – passando pelo que passei, só estava municiando minha consciência para julgar o nosso passado, condenando-o, mas, hoje não posso condená-lo, muito menos aos que, movidos pelo passado, lhe perseguem em mim. Convido-lhe, neste momento, da mesma maneira que este astro levantou-se e transformou a noite em dia, ao perdão mútuo, à compreensão, para que possamos prosseguir nesta jornada.

Confesso que muitas vezes, quando em minha revolta, fatiguei-me em pegar pedras também, mas, quando pensava em você, rapidamente, desobstrui as estradas sobre as quais coloquei, pavimentei algumas e limpei outras, porém, para algumas pessoas, isto nunca é o suficiente.

Telefonaria para as pessoas que conhecem a você e a mim, são poucas, mas, são elas que sempre, nos piores trechos da estrada, nos ajudaram a retirar as pedras que obstruíam o caminho e em outros momentos, quando não podiam retirá-las, trocavam os nossos calçados para que as pedras não ferissem os nossos pés. Santas.....; as convidaria para passar o dia conosco. Seria ótimo viver ao lado destas pessoas todos os dias de nossas vidas, mas, por outro lado, não nos esforçaríamos para aprender a retirar as pedras sozinhos.

Após rever a todos e ainda junto a esta pessoa, que, sinto, começamos a nos aceitar, findando o dia, iria prestar atenção ao espetáculo apresentado pelo astro rei. O movimento imperceptível, as nuances dos amarelos e vermelhos e a leve e cálida brisa que sopra para o mar, forçosamente, me faria comparar à nossa jornada. Aliás, nos assemelhamos a este astro, em sua jornada diária; ao nascer, prometemos mudar, como ele muda a noite para o dia, o passado escurecido pela dor para o presente ardente e claro de promessas de alegria; irradiamos o que prometemos ser, da mesma forma que ele irradia sua luz, mas às vezes algumas nuvens impedem que esta claridade se irradie – não sei se, por covardia ou por conveniência, muitas vezes deixei estas nuvens bloquear minhas irradiações, fazendo com que a escuridão do passado tomasse conta de mim, apesar de permanecer o mesmo.

Muitas vezes e com muita vontade, quis ser você, para que assim as pessoas me temessem e, me bajulando, se submetessem; ponderei e vi que, assim, não despertaria o principal laço que une os seres. Temi o desprezo e o desrespeito que é despertado quando abrimos mão da violência, da arrogância e da prepotência.
Tristeza..., como é possível valorizar, com tamanha veemência estas nuances da natureza humana, ainda inferiorizada; como é possível só ser respeitado pelo poder temporal, como só ser admirado pelo que se tem?!

.......podia ter sido diferente, mas.....ainda é a minha natureza.

Assim, encerro mais uma jornada e, se serve de instrução a alguém, peço na lápide:

“AQUI JAZ O CORPO DE DUAS PESSOAS QUE LUTARAM À PROCURA DE RECONCILIAÇÃO
”!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Solidão da alma

Olá, Pessoal!
Hoje, após muito tempo, iremos postar um texto enviado por uma leitora "anônima". Este texto, de autoria de Maisa Intelisano, se mostra profundamente realista e reflete a nossa realidade que muitas vezes não queremos aceitar e, então, criamos ilusões como uma possível fuga de nós mesmos, buscando, embriagadamente, a atenção de pessoas que, ao menos apresentam um mínimo de afinidade com nossas vidas, no intuito de não percebermos que somos, queiramos ou não, seres solitários; assim, agradecemos a nossa leitora "anônima", que nos brindou com esta pérola:

Talvez não haja no universo sentimento mais profundo do que este: solidão interior. Aquela solidão da alma. A constatação fria e inegável de que, não importa o quanto eu esteja cercada de coisas e pessoas, ou o quanto outras criaturas tenham contribuído com a minha caminhada, em minha consciência eu estou sempre só, comigo mesma. Enfim, sós... Eis que, em algum momento de minha existência, minha consciência me força à transformação, à total, profunda e sincera revisão de tudo em que vinha acreditando. Ela me faz olhar novamente para tudo o que fiz, construi e aprendi e, de forma implacável, me coloca frente à frente com tudo que sou, de verdade, e nem sequer imaginava.

Não há fuga possível, não há como ou onde esconder-me. É como se todas as máscaras caíssem ao mesmo tempo e eu fosse obrigada a olhar num espelho vivo e límpido, onde estão refletidas todas as minhas verdadeiras emoções, idéias, necessidades e tropeços. Meus medos e minhas carências.

E, ao me deparar com tanto da minha verdadeira essência que eu desconhecia e ignorava, é como se algo se rompesse dentro de mim e criasse um imenso vazio, que me engole e deixa sem chão e sem teto, flutuando, em completa suspensão. É como se eu vagasse dentro de meu próprio vazio interior.

As referências momentaneamente se confundem, como se, o tempo todo, eu estivesse seguindo um mapa falso, para um tesouro que idealizei, mas nunca existiu.

As crenças parecem diluir-se, como se não passassem de bonecos de açúcar, que criei apenas para me adoçar a existência, enquanto estava ocupada demais sonhando acordada.
As certezas se transformam em dúvidas, como se tudo o que eu sabia não passasse de um enredo destinado apenas a justificar a mim mesma.

O que fazia sentido fica pálido e borrado, como se o meu universo fosse apenas o produto de uma imaginação muito fértil, ou a lembrança de um sonho muito vívido, ou uma alucinação.
E tudo o que tenho é apenas a mim mesma, em toda a minha realidade nua e crua. Nem mais, nem menos. Sou eu me despindo para mim mesma, como nunca havia feito antes...

E, então, vem a dor... A dor de perceber que, talvez, essa solidão seja apenas reflexo de uma escolha, uma postura, uma crença equivocada. A dor de saber que quem se afastou fui eu mesma, num movimento de defesa infantil e inconsciente, numa fuga assustada por medo de sofrer, ou de perder, ou de ser esquecida. A dor de me dar conta de que, o tempo todo, fugi apenas de mim mesma e que os outros apenas respeitaram a minha fuga, deixando-me fugir.
E a dor, às vezes, é tanta e tão grande, que faltam forças para sair do lugar, falta energia para fazê-la parar ou mesmo para olhar para ela. Ela dói no corpo e na alma, dói por dentro e por fora, dói pesado e profundo.

Não pretendo anestesiá-la, não pretendo também ignorá-la. Não desta vez. Quero experimentá-la até a última gota, se possível, se eu suportar. Quero abraçá-la para que ela se transforme em luz, a luz que ainda não tive coragem de buscar para me orientar em meus caminhos.
Não quero apenas passar por ela, mas passar com ela, caminhar com ela, compartilhar seus segredos, conhecer sua história. A minha história.

No entanto, eu e ela estamos no mundo. E, estando no mundo, caminhamos com outras pessoas. Pessoas que estão em outros momentos, pessoas que têm outras necessidades, pessoas que só conseguem ver em mim o que já conhecem, sem conseguir, nem de leve, suspeitar do que também sou, e elas não conhecem e não conseguem perceber e compreender. E nem mesmo eu conheço bem... E não há como explicar. Não há como colocar em palavras essa solidão que dói em meio a tanta gente, essa solidão plena que me faz sentir única como nunca me senti, essa solidão que me afasta de tudo e de todos e, ao mesmo tempo, quer desesperadamente estar em meio a outros que possam, ao menos, acolhê-la, exatamente como ela é.

Não há como decifrar, não há como abrir o peito e mostrar o que está acontecendo bem ali dentro, onde a dor decidiu se instalar. Não há como mostrar o coração que dói, ao lado daquele que bate, pois só eu o sinto. Só eu sinto o que ele sente...

E, na nossa dor, somos cúmplices um do outro, nessa solidão que é triste, mas não é tristeza. Essa solidão que assusta, mas não é medo. Essa solidão que machuca, mas não deixa ferida. Uma solidão que é mais que estar sozinho, pois é solidão da alma.
Comentários serão benvindos.
Obrigado, leitora "anônima" e obrigado Maisa Intelisano.
Teceremos nossos comentários sobe este texto.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Intolerância Religiosa I

Olá, Pessoal, tudo bem?
Desculpem-me a ausência durante estes meses, mas, aqui vai mais uma postagem para comentários. Desculpem o "tamanho", mas, não teve jeito...teve que ser assim, sem cortes ou resumos. Um forte abraço e um excelente 2010.

Ontem, 21 de janeiro (quinta-feira), foi o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. Pouca coisa foi veiculada na mídia nacional, que, se encontra “ocupada” em mostrar os horrores dos desastres do recente terremoto no Haiti e as enchentes em São Paulo (talvez estes fatos acrescentam mais pontos na audiência).
Aqui na Bahia, especificamente num programa de rádio, ouvi uma frase muito interessante e que me levou a refletir bastante. O Médium José Medrado, tecendo comentários a respeito do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, parafraseou (acho que) um desabafo atribuído à filha da Sacerdotisa Mãe Gilda de Ogum do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum – que desencarnou (infarte fulminante) em decorrência de agressões efetuadas por adeptos de uma determinada Igreja Evangélica ao seu Templo, como também à veiculação, na capa do jornal desta mesma Igreja, de sua foto estampada na capa, com a seguinte expressão: “Macumbeiros e charlatões lesam bolso e vida de clientes”, de forma a denegrir sua imagem.
A frase atribuída a sua filha foi a seguinte: “Eu não quero tolerância, quero respeito
Frase simples, mas, carrega uma pesada carga de verdade em relação ao termo “tolerância religiosa”, como que a palavra tolerância desse a conotação de “ter que aturar”, demonstrando que a tolerância é uma obrigação imposta por Lei e não uma forma natural e espontânea de aceitação dos contrários.
Esta frase atribuída à filha da Sacerdotiza Gilda de Ogum, cujo nome é Jaciara Ribeiro – atual Sacerdotisa do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum – traduz de forma bem clara o que os adeptos de algumas religiões querem: RESPEITO PELA SUA PRÁTICA RELIGIOSA.
Quando vemos que é necessária uma Lei para alertar e punir a prática da Intolerância Religiosa, comprovamos o quanto ainda não entendemos a Doutrina de Jesus, base das religiões cristãs, que se encontra contida nos evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João, sem falar nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas).
A Lei 11.635 sancionada pelo Presidente da República em 27 de dezembro de 2007, criando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, é um atestado da natural intolerância e preconceito social no que toca às diferenças.
As corruptelas nascidas das dissidências de religiões que apresentavam, aparentemente, a doutrina Cristã (que se encontra nos Evangelhos) como “pano de fundo” e que se intitulam cristãs, esqueceram das “palavras” de Jesus, citadas pelos seus apóstolos....
Mateus 05 – As Bem Aventuranças
23- Se, pois, ao trazeres ao altar a sua oferta,
ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24- Deixa perante o altar a tua oferta,
vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e então, voltando, faze a tua oferta.
25- Entra em acordo sem demora com o seu adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão.
26- Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.

Nesta passagem vemos que Jesus não condenou a forma exterior de adoração à Divindade, mas, o conteúdo do “coração” daquele que sacrificava ao seu Deus; e demonstra, com isto, que o sacrifício mais válido para Deus é a pureza e leveza do “coração” ou da consciência tranquila. Jesus, aqui, respeita a forma de adoração, mas, ressalta a pureza do espírito como a forma que mais agrada a Divindade.

Marcos 09:
Jesus ensina a tolerância e caridade.
38- Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que expulsa os espíritos em teu nome, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.
39- Mas Jesus respondeu: Não lho proibais;
porque ninguém há que faça milagre em meu nome e logo a seguir passa a falar mal de mim.
40- Pois quem não é contra nós, é por nós.
41- Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão

Vemos, nesta passagem, os próprios discípulos de Jesus requerendo seu aval contra uma pessoa que “trabalhava” curando e "expulsando" espíritos, pois, o mesmo não fazia parte do “grupo”. Jesus, de imediato, repreende João dizendo para que não proíba o homem de fazer a sua parte em favor do próximo.
Podemos ver, nesta passagem, que a intolerância e a prática de exclusão de pessoas que não fazem parte do grupo já ocorria, porém foi contrariada por Jesus, dentro de seu próprio grupo. Porque, após mais de dois mil anos de Cristianismo, vamos contra os ensinamentos de Jesus, excluindo, condenando e agredindo as pessoas que apresentam formas distintas de adoração à Divindade? Será que só Jesus salva? E será que salva mesmo? De que e de quem?
E antes de Jesus, a humanidade ficou sem salvação? E nas civilizações em que o cristianismo não adentrou, a humanidade destas civilizações estão perdidas?
Pessoal, devemos atentar para os evangelhos, pois, se somos cristãos, somos evangélicos, haja vista que a Doutrina de Jesus se encontra “dentro” dos Evangelhos e Jesus não se personalizou como a “pessoa”, matéria episódica e social, ou seja, Ele não se descreveu como sendo Jesus de Nazaré, filho de José, o carpinteiro e de Maria; Ele simplesmente disse.....
.....Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; e ninguém vai ao Pai senão por mim.
Em outras palavras, ninguém cresce, ou vai ao encontro de Deus sem, sincera e honestamente, viver buscando a verdade e, consequentemente, praticando a lei maior de Amor e Caridade.
Mas.... “quem há de”, neste plano, conhecer a verdade e se arvorar defensor da mesma, maltratando aqueles que buscam agradar a Deus de acordo as suas práticas, mesmo que diferentes das nossas?
“Quem há de” ser o representante legal de Deus aqui na Terra, para determinar qual a maneira mais correta de praticar a Lei de Amor e Caridade?
...para nossa reflexão.


Em tempo.
Nossas homenagens, mesmo sem a ter conhecido, a Mãe Gilda de Ogum, que, conforme relatos de pessoas que a conheceram, professou sua religião com muito amor e dedicação, sempre se esforçando para que todos que adentrassem o Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum conhecessem a verdade libertadora da prática do bem
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